quinta-feira, 13 de novembro de 2008

(Des) Encontros Marcados nas Paisagens Urbanas



Luciana Sauer Fontana


Podemos pensar as relações que se dão dentro de um espaço geográfico e político, denominado como cidade, de várias formas. Podemos pensá-las como um espaço em movimento, ou, então, como um espaço em que podem conviver “harmoniosamente” múltiplas identidades culturais, religiosas, étnicas, de gênero e outras mais.
Talvez possamos dizer, ainda, que as paisagens urbanas das cidades seriam espaços de encontro de muitas pessoas, seja daquelas que se conhecem ou daquelas que nunca irão se conhecer, mas que compartilham o mesmo espaço diariamente.
Embora os céticos e saudosistas traduzam as paisagens urbanas, chamada por alguns de pós-modernas, como espaços de solidão, penso, ao contrário, que nunca estamos sozinhos, acredito, inclusive, que sempre temos um encontro marcado. E mais, acho que ao fim e a cabo, a solidão não existe, é uma mera invenção daqueles que desprezam as vivências do cotidiano.
Todos os dias temos encontros marcados, nós é que os desprezamos em nome da pressa e de preconceitos das mais diversas ordens. Neste momento, por exemplo, não posso deixar de avisar, aos caros leitores, que suas agendas já estão repletas de encontros, que acontecerão ainda hoje. Estarão se perguntando, agora, como posso prever seus compromissos, se nem mesmo os conheço?
Saliento que, mesmo que tenhamos a sensação de estar só, nas imensas, movimentadas e engarrafadas avenidas urbanas, os encontros sempre podem acontecer, nós é que nunca percebemos. Diariamente, mesmo os mais solitários têm encontros marcados, basta olharem atentamente para o cotidiano. Estou tentando dizer que, ainda que, eu não cumprimente o cobrador do ônibus, o encontro (o vejo) diariamente. Embora eu não saiba absolutamente nada sobre sua vida - além do valor que ele cobra pela passagem -, o encontrarei, sempre que precisar me deslocar do meu bairro até o centro da cidade. Na verdade, fingimos nunca enxergar a Sra. idosa que passa calmamente em frente a nossa janela, mesmo assim nos encontraremos. Mesmo que eu faça de conta que não perceba a existência do vendedor de doces, que aparece todo dia no escritório em que trabalho, nos encontraremos.
Temos encontros marcados em quase todos os espaços da cidade, até mesmo no sinal de trânsito, especialmente quando passeio de carro aos finais de semana. Embora eu prefira fechar o vidro do carro, com receio de ser abordada pelo menino mal vestido e seus malabares, esse encontro sempre acontece. O fato é que encontros sejam eles marcados ou não sempre acontecem, mesmo nas mais agitadas paisagens urbanas, basta olharmos para o cotidiano. A solidão é uma ilusão!

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