sábado, 4 de setembro de 2010

Supermercado como um ambiente de aprendizagem?!

Ana Paula Frederes, Anelise Etter, Carla B. D. Klein, Marceline A. Griebeler pesquisaram o supermercado como um ambiente de aprendizagem, por ser um ambiente bastante freqüentado por crianças e adultos, que inconscientemente já estão sendo impulsionados ao consumo. Para tanto observaram crianças num supermercado, como agem, o que gostam, com quem “fazem compras”... Entrevistaram cerca de 30 crianças entre 6 e 11 anos, questionando se gostam de ir ao supermercado, o que gostam de comprar, o que é caro ou barato, quais as suas preferências de brinquedos e quais os brinquedos para meninos e meninas que conhecem. Todas as crianças responderam que gostam de ir ao supermercado, principalmente para comprar guloseimas (Pirulito, bala, salgadinho, bolacha recheada, chocolate, chiclets...) e brinquedos, carrinho de controle e Hot Wheels (meninos )e boneca Stephany e as Rebeldes (meninas). As crianças demonstram que existe uma diferença entre brinquedos de meninas e meninos, dizendo: “Carrinho, ( é de menino), mas se for rosa é de menina”. “ Tudo o que for rosa, é brinquedo de menina. Quais são as cores de meninos”? “ Preto, marrom e azul”. Os brinquedos que servem tanto para menino quanto para menina, são: Bola, bóia e piscina. O que é barato no supermercado? “ Bala, pirulito, carrinho de 1,99...” As marcas e brinquedos preferidos das 30 crianças entrevistadas são:


O ambiente do supermercado é organizado para atrair consumidores. Começando pelos carrinhos de compras, com carrinhos de plástico embutidos em baixo ou cadeirinhas para bebês em cima, além daqueles carrinhos fabricados em tamanho menor, para que as próprias crianças possam conduzi-los durante as compras. Passam a idéia de que enquanto os filhos ficam ali sentados ou entretidos brincando de imitar os adultos, seus pais podem realizar suas compras com tranqüilidade. Porém, inconscientemente, estas crianças já estão sendo alvos do consumismo e acabam relacionando o ato de comprar ao prazer.
Os produtos são organizados na prateleira de acordo com o alvo: capturar o comprador. Observamos que onde havia produtos para crianças e principalmente nas prateleiras de brinquedos, os mesmos ficam mais baixos, facilitando o seu alcance e aguçando o desejo das crianças.
As prateleiras antes do caixa são recheadas de pequenos produtos, especialmente chocolates. Ao ficar na fila, adultos e crianças são tentados pelos mais diversos produtos e dificilmente resistem à vontade de comprá-los.
DURANTE AS OBSERVAÇÕES...
Ø 1ª situação: Uma menina com cinco anos que acompanhava sua mãe nas compras. A mãe tinha um carrinho de compras e a menina uma cestinha onde estava fazendo seu próprio ‘rancho’. Na cesta havia bolacha recheada, balas, salgadinho, chiclets, etc.
Ø 2ª situação: Uma menina com três anos, com uma sacola, também estava fazendo seu ‘rancho’; o detalhe é que na sacola só havia balas, chocolate, salgadinho, etc.
É visível que cada vez mais o consumismo ganha lugar de destaque na vida de todas as pessoas, mas principalmente na vida das crianças. Apesar de serem pessoas com menor aquisição financeira, o público-alvo que mais é persuadido pelas campanhas de publicidade, são as crianças. Joël-Yves Bigot, diretor do Instituto da Criança, ressalta: “Há dez anos, as crianças influenciavam o consumo a partir dos cinco ou seis anos, e era necessário esperar até a escola média para que pedissem um produto de uma certa marca. Hoje, começam a determinar o consumo aos três anos, e fazem questão das marcas a partir dos seis ou sete anos”. (INTERPRENSA, 2000). Numa reportagem sobre o consumismo infantil encontramos que, “Elas ( as crianças) já chegam na loja, sabendo o que querem, porque viram na TV, na revista, no outdoor. Mesmo que os pais não concordem com o modelo escolhido pelo filho, quem vence esta guerra no final são os pequenos, que acabam levando aquilo que escolheram, mesmo com cara feia dos adultos”. (Jornal NH na Escola, n° 03, 2006)
E diante da busca incessante e do desejo descontrolado por consumir, surgem questões sobre o assunto que valem a pena serem debatidas por educadores e pais, entre elas o tipo de papel que a propaganda e publicidade exercem nas pessoas induzindo-as ao consumo, mesmo que não necessitem do produto comprado. As explicações para essa situação de uma sociedade consumista são várias, envolvendo comportamento, cultura, influência da mídia e pode até ser uma herança dos próprios pais super consumistas.
O fato é que o povo ocidental, devido ao sistema capitalista, consome muito mais do que necessita para sobreviver, pois a indústria não pára de produzir e o consumidor está sempre comprando mesmo o que já possui ou algo desnecessário. Existe um desejo de comprar. Para seguir uma tendência da moda? Ou para sentir-se mais feliz e com mais prazer? Pais, que enchem os filhos de presentes caros, sem nunca dizer não, são fortes candidatos a estarem educando um consumidor compulsivo.
O consumismo mostra que os indivíduos podem acabar transferindo o valor de descartável não só às coisas que compram, usam e trocam, mas também acabam tendo a sensação de um poder que é irreal, cuja aplicação é o desejo de descartar tudo que ‘supostamente’ não serve mais, incluindo, regras, sentimentos, pessoas, instituições etc.
Acreditamos que é preciso educar as crianças para o sentido crítico. Os valores são apreendidos pelas crianças pelos exemplos. Nem sempre é fácil para os pais ensinar seus filhos a serem consumidores responsáveis, porque eles próprios não o são. Os adultos têm uma função de responsabilidade social. Quando decidem negar um brinquedo à criança, mesmo podendo adquiri-lo, mostram que existem limites. “Se os pais cederem a todos os pedidos e argumentações, passam a viver uma relação de dominação. Devem distinguir até que ponto é necessário dar à criança aquilo que ela pede, ou se estão tendo uma atitude baseada na falta de tempo para ficar com ela, porque nem dinheiro, nem bens materiais são capazes de substituir a companhia dos pais”. É recomendável, portanto, que o dinheiro seja um tópico discutível em casa. É fundamental evitar o hábito de presentear os filhos como modo de expressar amor e afeição. Quando isso acontece, as crianças podem imaginar que é possível comprar uma amizade, por exemplo, da mesma forma, os pais devem manter elogios e críticas separadas do dinheiro.
É muito útil a criança aprender a conviver com um mundo consumista, sem ter a fantasia de que pode ter tudo. Ela precisa entender que seus verdadeiros tesouros são suas qualidades e virtudes, que nenhum dinheiro pode comprar.
REFERÊNCIAS: www.wikipedia.org ; www.portalfamilia.org ; www.claudia.abril.com.br
SOUZA, Solange Jobim e. Subjetividade em questão: Infância como crítica da cultura. Rio de Janeiro: Editora Sete Letras, 2000.
Jornal NH na Escola. Entre as bonecas e o salto alto: A mídia como espaço para o consumo infantil e a erotização de crianças e jovens. A importância da escola e família demarcar seu papel nesta relação. n° 03, 13/05/2006.

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